{ "@context": "https://schema.org", "@type": "NewsMediaOrganization", "name": "Desafios com Jorge Aziz", "alternateName": "Desafios com Jorge Aziz", "url": "/", "logo": "/imagens/120x100/layout/logo_ba3a032a6855389c766e98a652e6c33f.png", "sameAs": [ "https://www.facebook.com/rjnewsnoticiasface", "" ] }{ "@context": "https://schema.org", "@type": "WebSite", "url": "/", "potentialAction": { "@type": "SearchAction", "target": "/busca/{busca_termo}", "query-input": "required name=busca_termo" } } .header-coluna { background: url(/hf-conteudo/templates/the-big-journal-v3/img/header/blogs.jpg) center center #000; background-size: cover; height: 250px; z-index: 999999; } .header-coluna-logo { background: url(/hf-conteudo/s/layout/blog_23_628bb0.jpeg) no-repeat center; background-size: contain; width: 100%; height: 250px; position: absolute; z-index: 1; margin-top: 0px; left: 0; } .header-coluna-logo-cor { position: absolute; z-index: 1; width: 100%; height: 250px; background: cc; } .maxh70 { max-height: 70px; } .margin-top-70 { margin-top: 70px; } 5s3q8
Jornal o Globo, matéria referente
"One ever feels his two-ness,—an American, a Negro; two souls, two thoughts, two unreconciled strivings."
"Sempre se sente uma duplicidade — um americano, um negro; duas almas, dois pensamentos, duas lutas não reconciliadas."
— W. E. B. Du Bois, The Souls of Black Folk (1903)
O que revela o avanço evangélico entre pretos, pardos e jovens — e por que precisamos ouvir as vozes que escapam à captura da pureza.
A nova fotografia trazida pelo Censo, e agora destacada pelo O Globo, é eloquente: a expansão evangélica no Brasil se dá com mais força entre pretos e pardos, e nas faixas mais jovens da população. Não se trata, portanto, apenas de um fenômeno religioso: estamos diante de um movimento sociocultural profundo, que intersecciona questões de raça, juventude, desejo e precariedade.
Essa realidade reforça — e ao mesmo tempo tensiona — a reflexão que propus na última coluna: a máquina do zelo não é neutra. Ela opera com grande eficácia justamente sobre corpos e territórios historicamente despossuídos.
Onde o Estado falha em prover direitos, onde a escola não gera encantamento, onde o espaço público não oferece segurança ou futuro, ali avança a máquina zelótica. E avança com o discurso da pureza, da moral, da ordem, do pertencimento — tudo aquilo que, na experiência concreta do jovem negro de periferia, o mundo oficial lhe nega.
Mas há um risco sutil e brutal: este zelo, quando racializado, atua como máquina de branquificação simbólica. E aqui cabe lembrar uma lição que vem de longe — de W. E. B. Du Bois e de sua ideia de dupla consciência.
O sociólogo e pensador negro norte-americano descreveu como, em sociedades estruturadas pelo racismo, os negros são forçados a viver em estado de cisão permanente: uma alma que lhes pertence por direito, outra que lhes é imposta para serem aceitos. Algo muito semelhante ocorre hoje com milhares de jovens negros e pardos que se convertem em igrejas zelóticas: a salvação oferecida exige, como preço, a negação das raízes afro-brasileiras, das práticas culturais ancestrais, do corpo como espaço de liberdade.
O zelo religioso instala então uma nova versão da dupla consciência: ser "salvo" implica tornar-se outro, despido de partes de si. E manter-se fiel às raízes implica correr o risco da marginalização moral.
Na juventude, isso assume ainda uma estética sedutora. O zelo se disfarça de modernidade: louvor pop, vídeos virais, retórica de sucesso e prosperidade. Mas o conteúdo segue rígido, disciplinador e conservador. A performance da fé esconde a captura do desejo.
É essa máquina simbólica — a do zelo que captura o desejo e exige purificação — que precisamos expor e confrontar. Porque se deixarmos a lógica da pureza operar sem resistência, estaremos não apenas condenando corpos e desejos à submissão, mas reforçando a estrutura profunda de opressão cultural e racial que há séculos marca o Brasil.
O Coro sem Órgãos, então, precisa ser também um espaço de resistência à dupla consciência forçada. Um espaço onde jovens negros e pardos possam ser múltiplos, híbridos, contraditórios — sem terem que pedir licença à moral conservadora, nem renegar suas heranças. Onde o canto seja livre, e o desejo, não capturado.
Porque entre uma juventude salva e uma juventude livre, há todo um campo de lutas ainda por inventar.
Como o zelo religioso atua sobre as juventudes negras e periféricas?
Conceito de W. E. B. Du Bois: viver sob o olhar de uma sociedade que exige a negação de sua própria história.
No avanço evangélico entre jovens negros e pardos:
a salvação exige "purificação cultural";
as raízes afro-brasileiras são demonizadas;
o corpo é policiado;
a dupla consciência se reinstala como conflito íntimo.
Resistir ao zelo é também resistir à imposição dessa cisão.
Fonte: Citada no texto