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Entre Deus e o Estado 2h4w4c

O zelo que devora a Democracia 5a6z2u

Por Jorge Aziz em 10/06/2025 às 07:46:24

Qua o signo torna se propriedade excludente

"Quem opera a dessuprematização dos suprematismos com conhecimento de causa tem de chegar bem perto do foco do incêndio."

— Peter Sloterdijk, O zelo de Deus


Nos últimos anos, temos assistido a um inquietante fenômeno: a fusão entre discursos religiosos e retóricas políticas em diversas partes do mundo — e de modo particularmente ruidoso no Brasil. Não se trata de mera expressão de fé no espaço público, que é legítima. Trata-se de uma estratégia sofisticada de apropriação de símbolos religiosos — especialmente do monoteísmo — para capturar a própria ideia de Estado e seus valores constitutivos.


Veja-se o slogan repetido à exaustão pelo ex-presidente Jair Bolsonaro e seus prosélitos: "Deus acima de tudo, Estado acima de todos." Não é apenas um jogo de palavras. É um projeto de poder.


O filósofo alemão Peter Sloterdijk, em seu livro O zelo de Deus, oferece uma chave de leitura preciosa para compreender essa lógica. Segundo ele, o monoteísmo — que em seu princípio poderia remeter a um ideal universal — se transformou, historicamente, em um dispositivo de supremacia: uma bandeira levantada por um grupo para afirmar sua superioridade sobre outros. O zelo religioso, alimentado por essa ânsia de exclusividade, ou a funcionar como máquina de vigilância e exclusão.


Algo semelhante acontece na política contemporânea. Conceitos como democracia e liberdade, que deveriam ser ideais abertos, plurais, em constante construção coletiva, são tratados por certos movimentos como propriedade de uma facção autoeleita de "verdadeiros patriotas".


Assim como no zelo monoteísta:

  • Deus é apropriado por um grupo como emblema exclusivo;

  • Democracia e liberdade são apresentadas como conquistas que pertencem apenas aos "nossos", e não a um direito universal.


Quem não adere ao pacote simbólico-ideológico do grupo é tachado de inimigo da pátria, da moral, da família — e até mesmo de Deus. A divergência política a a ser tratada como heresia. O opositor se transforma em apóstata.


Esse processo opera uma profunda inversão. Ao invés de ampliar o espaço democrático, ele o restringe; ao invés de garantir a liberdade para todos, a converte em privilégio para poucos. Como nos alerta Sloterdijk, um conceito-limite — como Deus, democracia ou liberdade — não pode ser apropriado nem monopolizado. Quando isso acontece, ocorre uma regressão tribal: a máquina democrática se torna um instrumento de zelo. E zelo, nesse contexto, é aquilo que devora o pluralismo em nome de uma unidade falsa e coercitiva.


Vejamos a palavra liberdade nos comícios bolsonaristas. Não se refere à liberdade como valor universal, mas à liberdade de um grupo viver segundo seus próprios valores e regras, ao custo da liberdade dos demais. É a liberdade que autoriza a opressão — uma liberdade contra a liberdade.


A democracia, por sua vez, é evocada não como um processo aberto de convivência entre diferentes, mas como um plebiscito permanente para legitimar um poder absoluto, que pretende "purificar" a comunidade política de elementos tidos como indesejáveis. É a teologia política em ação: a política torna-se liturgia, o líder, um ungido, o Estado, um altar.


Por isso é urgente — e aqui Sloterdijk é incisivo — operar uma dessuprematização do discurso público. Devolver Deus ao seu lugar como conceito-limite, restaurando seu caráter de horizonte ético e espiritual. E recolocar democracia e liberdade como valores compartilhados, comuns a todos os cidadãos — não como bandeiras de facção.


Esse é o desafio que nos convoca. Restaurar a pluralidade no espaço simbólico e político. Desmontar a lógica do zelo que pretende devorar a democracia por dentro. Um zelo que, como todo fanatismo, se apresenta como guardião da liberdade, mas a corrói com as próprias mãos.


O que é um conceito-limite? 2x4j2j


"O Supremo só faz sentido como conceito-limite — de modo que ele não pode pertencer a ninguém e não deve ser apropriado de modo exclusivo por nenhum representante, nenhum seguidor e nenhum guardião da fé."
— Peter Sloterdijk, O zelo de Deus

Um conceito-limite (como Deus, democracia, liberdade) é um horizonte de sentido que orienta a vida coletiva, mas que não pode ser apropriado ou monopolizado por nenhum grupo. Quando transformado em propriedade tribal, gera fanatismo e exclusão.


Leituras complementares 5w3h6j

  • Peter Sloterdijk — O zelo de Deus (Editora Estação Liberdade)

  • Jan-Werner Müller — O que é o populismo? (Zahar)

  • Michael Walzer — Sobre a tolerância (Companhia das Letras)

  • Paul Ricoeur — A memória, a história, o esquecimento (Editora Unesp)

Fonte: Citada no texto

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