Economista e diretor de Indicadores econômicos e Sociais na prefeitura de Campos dos Goytacazes, ao norte do estado do Rio de Janeiro, Ranulfo Vidigal ite efeitos negativos para empresas com custos atrelados ao combustível, provocado pelo aumento no preço do petróleo, além de custos logísticos para a cadeia produtiva. Paralelamente, vê caminhar um aquecimento nos orçamentos de entes produtores da Bacia de Campos.

"Inegavelmente, o impacto para cima, causado por essa guerra, no preço do barril de petróleo, é significativo e imediato", realça Ranulfo argumentando: "Estamos diante não de um evento fortuito; estamos diante da decretação de uma guerra no Oriente Médio com duas potências de alto fator geopolítico e armamentista. O petróleo já disparou e vai continuar alto".

Sobre implicações para o Brasil com reflexo na região norte do estado do Rio de Janeiro, o economista comenta: "Nosso país hoje está entre os 10 que mais exportam o petróleo; então, o petróleo subindo é bom pro Brasil. E o norte fluminense (onde está localizado a Bacia de Campos) é uma das regiões que mais recebem indenização do petróleo e estava vivendo um momento de expectativas negativas em função da queda acelerada do preço do petróleo".

"Então, essa recuperação do preço dá um alívio para as contas fiscais dos prefeitos do norte fluminense, principalmente no último trimestre deste ano e no início do ano que vem", vislumbra Ranulfo, para quem a notícia negativa relacionada ao Brasil é que a China é grande importadora de petróleo e vai ter que fazer uma reciclagem na sua economia.

"Provavelmente a economia chinesa vai crescer menos e a taxa de juro internacional, com a inflação subindo, vai tender a se manter alta, o que é ruim para o nosso país também. Mas, em termo de petróleo, a região norte fluminense estará sendo favorecida, ainda que de forma inconstante". O economista assinala que o panorama dependerá do desenrolar e da duração do conflito.

Em resumo, Ranulfo destaca que outro fator com foco no consumidor é que, mantida essa tendência de recuperação do preço internacional do petróleo, a gasolina que caiu 5% há cerca de dez dias, daqui a pouco talvez tenha que subir de novo: "Consequentemente, encarece o custo de vida das famílias que dependem de veículos para se locomover e trabalhar".

REAÇÃO IMEDIATA - Pesquisador e superintendente de Petróleo e Gás do governo de São João da Barra (RJ), Wellington Abreu sugere prudência fiscal e monitoramento diário aos prefeitos: "O que hoje parece ganho pode virar frustração amanhã", alerta analisando que a preocupação em relação à oscilação no preço do petróleo é legítima e tem tomado conta dos debates entre gestores públicos das cidades produtoras desde a baixa no preço do Brent, após as taxas impostas pelo presidente americano.

"Sempre que ocorre uma tensão geopolítica envolvendo grandes players da indústria do petróleo, como agora com o Irã e Israel, os mercados reagem de forma imediata e muitas vezes exagerada". O pesquisador acredita que, no curto prazo, o aumento da cotação do Brent pode gerar uma elevação nas receitas de royalties e participações especiais.

"Municípios da Bacia de Campos, como Macaé, Campos e São João da Barra, podem sentir um incremento nas próximas distribuições, especialmente nas que têm como base os preços médios de maio, junho e julho", avalia. Porém, ressalva: "Por outro lado, é preciso ter cautela; o mercado também pode sofrer correções rápidas, caso haja um arrefecimento das hostilidades".

MAIOR BENEFICIADO - Reforçando sua posição, Wellington exemplifica que se a crise se alongar, o efeito pode ser duplo: "Primeiro, com aumento no preço do barril, beneficiando os rees; depois, caso o conflito atinja rotas logísticas, como o estreito de Ormuz (pedaço de oceano entre o golfo de Omã ao sudeste e o golfo Pérsico ao sudoeste); ou derrube a demanda global por temor de recessão, poderemos ver uma queda brusca nos preços".

Na gangorra das receitas, o superintendente aponta que quem sobe com força são os municípios com maior produção ativa: "isso porque o cálculo dos royalties leva em conta volume produzido e preço de mercado. Municípios com produção menor ou já em fase de declínio podem ter variação menos expressiva. O grande risco de "queda" seria mais adiante, se o preço despencar por recessão global ou ajuste de mercado".

Wellington enfatiza que o aquecimento nos preços do petróleo parece, por enquanto, uma nuvem ageira, mais fruto de especulação e medo imediato do que de um colapso estrutural na oferta mundial de petróleo: "Mas é claro; com o Oriente Médio, todo cuidado é pouco. Uma escalada mais grave, com envolvimento de novas potências ou bloqueios efetivos no estreito de Ormuz, mudaria totalmente esse cenário".