{ "@context": "https://schema.org", "@type": "NewsMediaOrganization", "name": "Desafios com Jorge Aziz", "alternateName": "Desafios com Jorge Aziz", "url": "/", "logo": "/imagens/120x100/layout/logo_ba3a032a6855389c766e98a652e6c33f.png", "sameAs": [ "https://www.facebook.com/rjnewsnoticiasface", "" ] }{ "@context": "https://schema.org", "@type": "WebSite", "url": "/", "potentialAction": { "@type": "SearchAction", "target": "/busca/{busca_termo}", "query-input": "required name=busca_termo" } } .header-coluna { background: url(/hf-conteudo/templates/the-big-journal-v3/img/header/blogs.jpg) center center #000; background-size: cover; height: 250px; z-index: 999999; } .header-coluna-logo { background: url(/hf-conteudo/s/layout/blog_23_628bb0.jpeg) no-repeat center; background-size: contain; width: 100%; height: 250px; position: absolute; z-index: 1; margin-top: 0px; left: 0; } .header-coluna-logo-cor { position: absolute; z-index: 1; width: 100%; height: 250px; background: cc; } .maxh70 { max-height: 70px; } .margin-top-70 { margin-top: 70px; } 5s3q8
Guerra Santa
Dizia Hamlet, num de seus lampejos trágicos: "o mundo está fora do eixo". Séculos depois, Derrida retomaria esse lamento para diagnosticar a modernidade que se desencontrou do tempo e da justiça. Mas é Peter Sloterdijk, em O Zelo de Deus, quem faz dessa frase uma bússola para entender a desorientação que hoje se espalha do Oriente Médio às redes sociais, da política doméstica aos conflitos planetários.
O mundo está desalinhado — não apenas em seus mapas, mas em seus mitos. A antiga promessa de que a história terminaria com a vitória da democracia liberal, como previu Francis Fukuyama em 1989, revelou-se um engano melancólico. A história não terminou: ela se multiplicou em narrativas inflamáveis, conduzidas por um novo tipo de combustível — o zelo.
Zelo é mais que entusiasmo. É fé que arde. É crença que milita. É o que moveu os profetas, mas também os inquisidores, os mártires e os fanáticos. No século XXI, o zelo escapou das igrejas e se alojou nos partidos, nas telas, nas corporações e nos algoritmos. Um político pode não ter projeto, mas tem causa. Um eleitor pode não ter argumentos, mas tem fé. A política tornou-se teologia secularizada: cada lado defende sua verdade como se fosse sagrada, e trata o outro como heresia.
Jerusalém, nessa leitura, não é apenas cidade: é símbolo de um mundo em disputa entre credos e petróleos. A guerra que ali acontece se reflete em toda parte — em campanhas eleitorais inflamadas, em discursos populistas, em ataques cibernéticos, em boicotes culturais. E tudo isso se move com gasolina. Literalmente. O petróleo do Oriente Médio ainda sustenta a máquina de consumo que retroalimenta o ressentimento global. Fé e fósseis, lado a lado.
Sloterdijk nos provoca a olhar com ironia e lucidez: o zelo é vital, mas é também perigoso. Quando transforma paixão em exclusão, quando confunde justiça com vingança, quando esquece que o outro pode ser legítimo — aí está o prenúncio da guerra, mesmo sob a capa da virtude.
Nesta era de verdades gritadas e silêncios sabotados, talvez o desafio seja cultivar uma política que aceite o inacabado, que desacelere o juízo, que reconheça a diferença como condição de mundo — não como ameaça.
Porque se o mundo está mesmo fora do eixo, talvez não devamos forçá-lo de volta ao centro. Talvez nos caiba girar com mais cuidado, com mais escuta, com mais coragem para não queimar os outros no fogo das nossas certezas.
Fonte: Citada no texto