{ "@context": "https://schema.org", "@type": "NewsMediaOrganization", "name": "Desafios com Jorge Aziz", "alternateName": "Desafios com Jorge Aziz", "url": "/", "logo": "/imagens/120x100/layout/logo_ba3a032a6855389c766e98a652e6c33f.png", "sameAs": [ "https://www.facebook.com/rjnewsnoticiasface", "" ] }{ "@context": "https://schema.org", "@type": "WebSite", "url": "/", "potentialAction": { "@type": "SearchAction", "target": "/busca/{busca_termo}", "query-input": "required name=busca_termo" } } .header-coluna { background: url(/hf-conteudo/templates/the-big-journal-v3/img/header/blogs.jpg) center center #000; background-size: cover; height: 250px; z-index: 999999; } .header-coluna-logo { background: url(/hf-conteudo/s/layout/blog_23_628bb0.jpeg) no-repeat center; background-size: contain; width: 100%; height: 250px; position: absolute; z-index: 1; margin-top: 0px; left: 0; } .header-coluna-logo-cor { position: absolute; z-index: 1; width: 100%; height: 250px; background: cc; } .maxh70 { max-height: 70px; } .margin-top-70 { margin-top: 70px; } 5s3q8
Escola Municipal - Sol e Mar
Há territórios que não ensinam. Apenas domesticam. Há arquiteturas que não acolhem. Apenas contêm. E há escolas que, antes de qualquer palavra dita em sala, já comunicam com o concreto, o ferro e o silêncio: "você não importa."
Caminhei por entre ruas estreitas e fios sobrepostos, até me deparar com um edifício branco e azul, de paredes em arco, sem janelas generosas, sem pátio de brincar, sem horizonte. Um antigo depósito adaptado. Um galpão de mercadorias convertido em escola pública. Um espaço de aprendizagem que jamais aprendeu a ser escola.
E então me vieram vozes.
Bourdieu grita que esse lugar é a reprodução espacial do habitus periférico. Uma geografia da desigualdade que ensina desde cedo quem pode sonhar e quem deve apenas obedecer. O espaço legitima o fracasso, não o combate. É um capital simbólico negativo.
Foucault sussurra que ali está mais um dispositivo de disciplinamento: as grades, o controle de entrada, os corredores estreitos, o olhar que vigia. A pedagogia do enclausuramento. Ali, o corpo aprende antes do pensamento — aprende a ser contido.
Deleuze e Guattari olham para a escola-depósito e veem uma máquina de captura. O devir-criança aprisionado pelo concreto. A linha de fuga interditada por paredes sem cor, sem gesto, sem devir. Mas talvez — talvez — entre os cantos abafados, surja uma brecha: um desenho no caderno, um sorriso fora do script, um educador que desfaz a captura.
Barthes, analista dos signos, lê a escola como um texto duro: as paredes gritam abandono, os muros contam histórias de desimportância, os fios aéreos narram a desorganização urbana da esperança. A criança entra nesse texto com o corpo nu de símbolos — e sai com o corpo marcado pelo significado de sua condição social.
Nietzsche, impiedoso, sentencia: aqui não se formam criadores, mas ressentidos. A estética do lugar é a negação da vida. A moral da mediocridade vence a vontade de potência. A escola ensina o peso, não a dança.
Flusser, visionário dos códigos, diria que a escola-depósito é uma antiprogamação. Uma falha na linguagem do futuro. O edifício não dialoga com o mundo. É mudo. E quem ali se forma, aprende a calar — no emprego, na vida, nas redes.
Virilio, atento à velocidade e ao acidente, apontaria: essa escola é um entulho. Um monumento à lentidão ineficiente. Em um mundo de redes, drones, mobilidades múltiplas e saberes dinâmicos, oferecer uma estrutura pós-industrial como território educativo é uma forma de acidente social em potência. Um lugar onde o saber colide com o concreto.
A escola não é só um lugar. É um gesto territorial.
É a tradução espacial de uma promessa social.
Quando ela se assemelha a um depósito, ela não apenas deseduca — ela nega o futuro.
Se quisermos repensar a escola como território e territorialidade, é preciso abrir o espaço à luz, erguer a dignidade dos corpos, escutar os afetos, e destruir as formas que aprisionam os fluxos da vida.
Porque nenhuma criança deveria aprender que seu destino é compatível com um depósito.
Fonte: Citada no texto