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Do zelo de Deus ao Algorítimo do zelo 511d33

A idolatria é a guerra de narrativas na era das redes sociais 5d3l5d

Por Jorge Aziz em 01/06/2025 às 09:49:42

Um Deus para excluir o outro

Na Antiguidade, a palavra era dom de poucos. Escrita, religião e poder formavam uma tríade simbólica capaz de organizar mundos e subjugar povos. Os que dominavam a escrita — e mais tarde, a interpretação da palavra divina — tornaram-se senhores da verdade. No coração do monoteísmo, não habitava apenas um Deus único e transcendente, mas um campo de batalha invisível, onde elites religiosas e políticas disputavam o privilégio de falar em nome do absoluto.


Peter Sloterdijk, em sua obra O Zelo de Deus, mergulha nesse território tenso entre fé e poder. Inspirado por Thomas Mann, recupera a ideia de que o impulso monoteísta não começa com a teologia, mas com uma energia afetiva mais primal: o ciúme, o ressentimento, o desejo de exclusividade. Antes mesmo de Deus, havia o irmão — e o ódio entre irmãos foi o embrião do zelo.


Sloterdijk não se limita a uma crítica religiosa. Ele identifica o zelo como força psicodinâmica que atravessa séculos: uma energia combativa, que move cruzadas, revoluções e guerras culturais. O zelo quer convencer, converter, purificar. Quer uma verdade única — e quer que todos a obedeçam.


Na modernidade tardia, esse zelo não desapareceu. Ele apenas migrou. Saiu dos púlpitos das igrejas e foi se alojar nas plataformas digitais, onde encontrou um novo templo: o feed. O algoritmo se tornou o novo sacerdote, mediando o que vemos, pensamos e acreditamos.


As redes sociais são, hoje, territórios de devoção. Ali, mitos se erguem com a velocidade do clique e a fúria do compartilhamento. Figuras públicas — sejam políticos, influenciadores ou empresários — são ungidas por suas comunidades como messias contemporâneos. E qualquer crítica é percebida como blasfêmia. O seguidor não é apenas um expectador; é também fiel, e às vezes, cruzado.


A idolatria digital segue uma liturgia própria. Os "fieis" não leem doutrinas, mas hashtags. Não rezam, mas replicam slogans. Não oferecem sacrifícios, mas cancelamentos. O inimigo é sempre o outro: o que pensa diferente, o que vota diferente, o que publica diferente. Como no monoteísmo guerreiro que Sloterdijk descreve, as plataformas reproduzem a lógica da exclusividade: só há uma verdade possível — a minha.


Esse processo de sacralização do discurso político, amplificado pelas redes, faz do espaço digital uma arena de formações de combate. Cada post é um manifesto. Cada curtida, um voto de fé. Cada comentário, uma trincheira. E os algoritmos, silenciosos, alimentam o fogo, maximizando o engajamento — quanto mais ódio, mais visibilidade.


Na superfície, tudo parece descentralizado, democrático, horizontal. Mas o que temos, na verdade, é uma nova centralização simbólica: o Deus único foi substituído por um feed único. Um só caminho, uma só retórica, uma só lente. O que Sloterdijk chama de "psicodinâmica do zelo" agora opera por meio de tecnologias de atenção, retroalimentadas por ressentimentos coletivos.


A questão que se impõe é: como escapar dessa nova idolatria? Como pensar um espaço público que não seja dominado por paixões excludentes, por "evangelismos digitais" que transformam o debate em catequese?


Talvez, como sugere o próprio Sloterdijk, a saída não esteja em negar o zelo — mas em desprogramá-lo. Reduzir seu impulso proselitista. Recuperar o dissenso como valor, e não como ameaça. Cultivar escuta em vez de resposta. Pluralidade em vez de cruzada.


Porque se o zelo é o fogo do ressentimento, talvez precisemos de uma nova brisa. Um outro espírito — não o da conversão, mas o da convivência.


Referências: 25608

  • Sloterdijk, Peter. O Zelo de Deus: uma crítica à razão religiosa. Estação Liberdade, 2013.

  • Mann, Thomas. José e seus irmãos. Companhia das Letras.

  • Byung-Chul Han. No Enxame: perspectivas do digital. Vozes, 2017.

  • Harari, Yuval N. Homo Deus. Companhia das Letras, 2016.


Fonte: Citada no texto

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