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O olho de quem vê?
Quem está escrevendo o seu mundo?
Lucas, 12 anos, a quatro horas por dia criando vídeos para o TikTok.
Sua professora de literatura, Dona Marta, luta para ensinar Machado de Assis a uma turma que mal lê textos longos.
No andar de cima da escola, um grupo de técnicos da Secretaria de Educação testa uma nova plataforma de ensino remoto — repleta de algoritmos de vigilância de atenção.
Quem está programando o cotidiano desses alunos?
Quem escreve os códigos que filtram suas percepções, desejos e escolhas?
Quem, afinal, codifica o mundo que eles habitam?
Da linguagem ao código: a nova gramática do pode
O filósofo Vilém Flusser dizia: as imagens técnicas não representam mais o mundo — elas o programam.
Hoje, as plataformas não apenas distribuem conteúdos: moldam a experiência do real.
Este novo campo é o verdadeiro espaço do poder contemporâneo.
Como Yuval Harari adverte em Nexus: o controle das interfaces mente-máquina será a disputa crucial do século XXI.
Os novos programadores não são apenas engenheiros. São os designers de fluxos, criadores de algoritmos, mestres da curadoria digital.
Adeus ao trabalho repetitivo: quem não cria é descartado
O velho trabalho de execução está morrendo.
Automação e IA não pedem licença.
Como disse Paul Virilio: a velocidade dos fluxos cria novas desigualdades cognitivas.
Os que não aprendem a se mover nesse espaço serão programados pelos que dominam o código.
Nas escolas, isso já é visível: quem apenas "usa tecnologia" sem compreendê-la está condenado a um lugar subalterno no novo mapa social.
A Escola como campo de batalha do código
A escola pública brasileira ainda resiste a este debate.
Ao não ensinar linguagens de programação e pensamento computacional, forma alunos que serão programados, não programadores.
Ao se render a plataformas padronizadas, corre o risco de se tornar um depósito de corpos digitais dóceis, como diria Foucault.
Como alerta Peter Sloterdijk, o humano é um animal programável. Mas agora somos programáveis por máquinas que aprendem sozinhas — e nos programam enquanto aprendem.
Programar não é apenas escrever linhas de código em um computador.
Programar é decidir como uma máquina ou sistema funciona — que escolhas oferece, que caminhos permite, que comportamentos reforça.
Hoje, plataformas digitais programam muito mais que máquinas: programam nossa atenção, desejos, afetos, opiniões.
Quem não entende como isso funciona corre o risco de ser apenas um objeto da programação alheia.
Por isso, ensinar programação (técnica e crítica) nas escolas não é um luxo — é um direito. E uma necessidade para a democracia.
Linhas de fugas: o direito de escrever o mundo
Mas há esperança.
Como diz Flusser: o verdadeiro gesto humano é jogar com os códigos.
Como propõem Deleuze & Guattari: não basta fugir da máquina de captura — é preciso traçar linhas de fuga com consistência.
Linhas de fuga hoje significam:
? Ensinar crianças a programar — não apenas a clicar.
? Formar professores como meta-programadores culturais.
? Introduzir epistemologia digital nos currículos.
? Cultivar práticas lentas e críticas no meio da vertigem algorítmica.
Estamos sendo escritos todos os dias por linhas de código que não lemos.
Mas ainda podemos aprender a escrever o mundo.
Ensinar a juventude a dançar com os códigos, a criar linguagens novas, a forjar superfícies críticas, será o maior desafio ético e pedagógico das próximas décadas.
Se não o fizermos, entregaremos nossos filhos a um mundo já escrito — por outros.
E como dizia Sloterdijk: um mundo escrito sem nós é um mundo onde já não vivemos — apenas sobrevivemos.
"A liberdade não está em recusar os códigos, mas em saber jogá-los contra si mesmos — criando novos mundos a cada gesto."
— Vilém Flusser
Este artigo integra a série Coluna Desafios, publicada por Jorge Aziz em diversos canais de jornalismo e pensamento crítico.
Fonte: Citada no texto